Vídeo-aula 19: O todo pela parte: a questão do estigma

Esta aula com a professora Ticiana Roriz abordou o estigma a partir da definição de Erving Goffman.

Inicialmente foi exibido um vídeo contando a história de "Pedro e Tina - uma amizade muito especial", baseada no livro de Stephen Michael King (Editora Brinque Book). A história conta sobre um menino que fazia "tudo errado", e que conhece uma menina que fazia "tudo certo". Os dois se tornam amigos e um passa a aprender com o outro.


A história nos faz refletir sobre características individuais que cada um de nós possuímos e que às vezes podemos querer exaltá-las ou escondê-las. O mesmo ocorre em relação ao outro: podemos ver no outro características que nos agradam e também características que nos desagradam. E há alguns atributos que em nossa sociedade são mais valorizados em detrimento de outros.

Goffman estudou sobre o estigma, que segundo ele é a situação do indivíduo que está inabilitado para aceitação social plena.
"um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social, possui um traço que pode se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus" (Goffman)


A questão do estigma depende do outro. O indivíduo pode ter um traço que o diferencia, mas ele só se torna estigmatizado quando não é aceito plenamente pelo outro.

Podemos verificar situações de estigmatização quando, ao se referir a alguém com alguma deficiência, diz-se algo do tipo "Ela é cadeirante, MAS é bonita", ou "Tem deficiência auditiva, MAS é muito inteligente". Como se por ter algum tipo de deficiência a pessoa não pudesse ter qualquer outro atributo. E é daí que vem o título da aula, da atitude de tomar o todo pela parte, ou seja, julgar a pessoa pela deficiência que ela possui, excluindo qualquer possibilidade para além da deficiência.



Goffman também traz a diferença entre o estigmatizado desacretidado e o desacreditável: o primeiro é o que tem uma característica distintiva evidente (uma pessoa cega, ou com deficiência física) e o segundo é aquele em que a característica que o diferencia não é imediatamente perceptível (ex: epilepsia, doença mental, deficiência auditiva).

Nesses dois casos a relação professor e aluno pode se dar de maneiras diferentes. Imaginemos que no primeiro dia de aula, o professor vê um aluno com Síndrome de Down. A estigmatização se dá no momento em que ao ver a deficiência, o professor já traça um perfil desse aluno, antes mesmo de conhecê-lo em suas reais potencialidades e limitações. Por outro lado, pode ter na mesma turma um aluno com alguma característica não visível, epilepsia, por exemplo. O professor só vai saber dessa doença quando o aluno tiver uma crise na sala de aula. Até que isto aconteça, haverá tempo para que o professor conheça este aluno antes de sua doença, podendo conhecer suas verdadeiras potencialidades e limitações. Neste exemplo, a criança com Síndrome de Down ficou estigmatizada por conta de sua deficiência visível. É preciso que aprendamos a ver as pessoas para além da deficiência.

Outra forma de estigmatização descrita por Goffman: "tendemos a inferir uma série de imperfeições a partir da imperfeição original". Isto ocorre quando se justificam todos os atos da criança pela sua deficiência, como eventuais erros, ou se a criança não toma a atitude que poderia ser esperada, por exemplo. Pode-se ainda generalizar a deficiência, quando por exemplo, alguém grita com um cego, como se ele não ouvisse, ou tratar uma pessoa com deficiência física como se fosse um bebê.

No encontro com os ditos "normais", a criança com deficiência pode se sentir exposta, sem saber como o outro vai percebê-la. Os menores atos podem ser sinais de capacidades notáveis. Ou erros menores ou enganos incidentais serem interpretados como decorrente de sua deficiência.

Quanto mais a criança com deficiência convive com os ditos "normais", mais ela vai aumentando seu repertório de situações vividas em sociedade, aprendendo a enfrentar situações constrangedoras e a resolver problemas que possam vir a enfrentar.



Devemos deixar de ter certezas que se baseiam em estigmas e enxergar a criança para além de sua deficiência, proporcionando-lhe as mesmas oportunidades que as demais crianças têm para desenvolver suas capacidades.

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