Vídeo-aula 16: Trajetórias Escolares de alunos com deficiência e a Educação de Jovens e Adultos: pensando o fracasso escolar

 

A professora Lucia Tinós apresentou dados de duas pesquisas, a primeira feita por ela a professora Kátia Amorim, uma pesquisa quantitativa que traz um mapeamento de dez anos dos alunos com deficiência matriculados na EJA. A segunda é uma pesquisa qualitativa, da professora Lúcia Tinós, apresentando a trajetória escolar de duas pessoas com deficiência até sua chegada à EJA.

Primeiramente ressaltou-se que a EJA (Educação de Jovens e Adultos) aparece na legislação primeiramente no artigo 37 da LDB, como modalidade de ensino para jovens e adultos que não tiveram oportunidade de se escolarizar na idade escolar. Outro documento é o Parecer nº 11/2000 do CNE/CEB (Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica) que traz orientações sobre a organização e a função dessa modalidade de ensino.

Os dados da primeira pesquisa traçam um perfil sobre quem é o aluno da EJA, que se constitui por sujeitos compostos pela e na diversidade; em sua maior parte proveniente de camadas socialmente marginalizadas (negros, idosos, trabalhadores, populações rurais e alunos com NEE).

Verifica-se também aumento dos alunos com deficiência dentro do público da EJA, ao mesmo tempo em que as matrículas totais nessa modalidade vêm diminuindo com o tempo, conforme tabela apresentada na aula, aqui reproduzida:

Fonte: Print screen de trecho da aula 16


Da segunda pesquisa foi apresentado o caso de uma aluna atualmente com 30 anos, matriculada na EJA de uma escola municipal, cursando o ciclo II do ensino fundamental. Ela tem deficiência física (distonia generalizada, deficiência que compromete o controle dos membros) e ao longo de sua trajetória escolar, passou por escolas privadas e públicas, especiais e regulares.

Esta aluna foi alfabetizada no período entre seus 4 e 10 anos de idade quando estava em uma escola especial privada. Aos 13 anos passou para uma escola especial municipal, onde se sentiu discriminada, pois não frequentava aulas, apenas participava de oficinas, período no qual ela relatou ter desaprendido muitas coisas.

Dos 23 a 24 anos de idade ela passou por uma escola especial filantrópica, onde contava com atendimento especializado para sua deficiência, porém neste caso, a escolarização fica em segundo plano. Aos 26 anos esta aluna teve sua primeira experiência na EJA, mas ficou impossibilitada de continuar frequentando pela dificuldade de se deslocar de casa para a escola, já que não contava com o transporte gratuito por morar perto da escola. Este ponto é muito sério, pois não foi levado em consideração o fato de que a aluna possui deficiência física e que tem o direito ao acesso à Educação.

Aos 27 anos ela matriculou-se numa escola municipal, no ensino fundamental I. Mas foi matriculada numa turma de segunda série, mesmo já sendo alfabetizada. Aqui fica claro que certamente não foi feito nenhum tipo de avaliação diagnóstica que pudesse verificar que ela já era alfabetizada.

Com 28 anos ela entrou no EJA novamente e desta vez conseguiu concluir o ciclo um do ensino fundamental. Ela relata que a professora teve um papel fundamental em seu sucesso escolar, pois colocou-se disponível para ouvir a aluna em suas necessidades. Ela então conseguiu o certificado do ciclo I e atualmente está cursando o ciclo II do fundamental, na mesma escola.

A partir da trajetória relatada, coloca-se a reflexão, se a EJA é uma oportunidade ou uma armadilha, uma vez que nem todos têm o mesmo sucesso escolar que a aluna da pesquisa apresentou. No estudo realizado, apenas dois alunos com deficiência conseguiram obter certificação no período do levantamento (2004-2007). O tempo médio de permanência na escola é entre dois a três anos, chegando a mais tempo, porém, sem avanços na aprendizagem.

É importante levar em consideração que os estudantes da EJA são jovens e adultos que trazem expectativas, projetos para seu futuro. E que eles geralmente já chegam à EJA com históricos de exclusão escolar e também social.

Apesar das legislações vigentes, as políticas públicas de educação especial são insuficientes. Os alunos com deficiência são "invisiveis", pois os dados sobre estes alunos são por vezes insuficientes, ou mesmo inexistentes.

Segundo a professora Lucia Tinós, nós professores, coordenadores, educadores, preciamos tornar visíveis as pessoas que historicamente não enxergamos, não escutamos, não falamos, não acolhemos e não acreditamos, pois elas são muito mais capazes do que pensamos.

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