Vídeo-aula 19: Relações Etnico-raciais na Escola

Prof. Cesar Rodrigues (Faculdade de Educação - USP)

Nesta aula foram abordados os conceitos de raça, racismo e etnia, com base nos trabalhos de Kabengele Munanga, antropólogo da Universidade de São Paulo.

Nesta aula, estes conceitos foram assim definidos:

RAÇA:
- inicialmente o termo foi usado na área da zoologia e da botânica, para classificar espécies animais e vegetais;
- o termo não tem validade para explicar a espécie humana, mas não significa que todas as populações sejam geneticamente semelhantes.
- problema no uso deste termo: hierarquização, com o decreto da raça branca como superior às demais. Relações de poder e denominação envolvendo o conceito de raça.

RACISMO:
- Segundo o dicionário Houaiss, o termo define um conjunto de teorias e crenças que estabelecem hierarquia entre raças/etnias.
- Para Munanga, não é um conceito com significado consensual

ETNIA:
- Conjunto de indivíduos que histórica ou mitologicamente têm ancestral comum, língua comum, mesma religião ou cosmovisão, mesma cultura, habitam o mesmo território (Munanga, 2004).
- A troca do termo "raça" pelo termo "etnia" não altera as relações de poder e dominação.

Fonte da imagem: Universo nova era


Após estas definições, o professor Cesar Rodrigues chamou atenção para o fato de que embora seja comum a afirmação de que o Brasil seja um país de mestiços, esta afirmação é perigosa, pois esconde as grandes diferenças entre as populações e reforça o mito da democracia racial, que de fato não há.

Segundo o autor Kabengele Munanga, "os conceitos de negro e branco têm um fundamento etnico-semântico, político e ideológico, mas não um conteúdo biológico", e que com os estudos genéticos e a constatação de que muitas pessoas de aparência branca possuem marcadores genéticos de origem negra, qualquer pessoa pode se autodenominar negro. Porém, ainda segundo Munanga, existe um "desejo de branqueamento" em nosso país, que faz com que as pessoas não se consideram negras, mesmo que sejam(1).

A escola deve promover a justiça curricular, promovendo espaços de discussão e aprendizagem sobre as questões etnico-raciais, para que os alunos tenham consciência sobre suas identidades e que as reforcem, para que para além da justiça curricular na escola, ocorra também justiça social a partir das ações na escola, que podem se estender para o entorno e para toda a comunidade.

No link abaixo, há uma entrevista concedida por Munanga, à revista Carta Capital, que está publicada no site Viomundo:
http://www.viomundo.com.br/politica/kabengele-munanga-a-educacao-colabora-para-a-perpetuacao-do-racismo.html
Nesta entrevista o autor fala, dentre outros tópicos, sobre as leis que tornaram obrigatórios os estudos sobre a história e a cultura dos povos negros e indígenas, nas escolas públicas. Para além da criação de leis é necessário adequar a formação dos professores para que trabalhem estas questões de forma crítica de modo a possibilitar o entendimento por parte dos alunos sobre as questões étnicas em nosso país e nas relações existentes dentro das escolas, no cotidiano dos alunos.

______________
(1) Fonte: http://umnegro.blogspot.com.br/2008/05/kabengele-munanga-difcil-tarefa-de.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário