Vídeo-aula 10: A relação entre professor e aluno

 

Para tratar da relação em sala de aula entre professor e alunos, o professor Gabriel Perissé apresentou alguns conceitos da obra de Alfonso López Quintás, presentes no livro "Descobrir a garndeza da vida: introdução à pedagogia do encontro" (2005):

1- Experiências reversíveis ou bidirecionais: quando duas realidade se unem; continuam sendo diferentes, mas não estão separadas. É uma "via de mão dupla", uma união, porém sem fusão, na qual preservam-se as individualidades, mas busca-se uma união.
Fonte: patoge.com.br


2- Encontro: é mais do que simples aproximação física. Ocorre quando entramos em em uma situação intencionalmente, com iniciativa, promovendo um enriquecimento mútuo.

Fonte: crischabes.blogspot.com


3- Âmbito: situação na qual transformamos um objeto ou um lugar ou mesmo uma pessoa dando-lhe novo significado. Foi dado o exemplo do piano, que no caso de ninguém saber tocá-lo ele será um simples móvel, mas caso alguém o saiba tocar, ele passa a ter outro significado, passa a ser de fato um instrumento musical.

Fonte: walshpianomovers.com


Um encontro ocorre quando dois âmbitos se entrelaçam estabelecendo uma experiência reversível. Quanto mais âmbitos produzimos em nossa, vida, mais criativos seremos.
"Transformamos uma sala vazia numa sala de aula quando, mediante o encontro, criamos um âmbito, um espaço em que as liberdades não entram em choque, mas se tornam ocasião para o diálogo e outras experiências criativas"
 


Quando a sala de aula se torna um campo de batalha, ela se transforma num lugar de falta de ética e respeito, enfim, de ausência de humanidade.

O professor não cria âmbito sozinho, precisa da participação de outros, que são os alunos e os objetos pedagógicos - livros, cadernos, etc. A sala de aula passa a ser lugar de encontro com o conhecimento.

O rejuvenescimento nasce do encontro, das experiências reversíveis. Quando ocorre, podemos entrar cansados em uma aula, mas saímos renovados. Faz-se importante analisarmos nossa relação com os outros. Somos criadores de âmbitos? Estamos promovendo encontros?

Vídeo-aula 9: Modelos de ensino: das concepções docentes às práticas pedagógicas

Prof. Silvia Colello

Esta aula aborda uma recorrente preocupação dos professores em relação às práticas pedagógicas. Porém, a professora alerta que a prática pedagógica, embora seja importante, representa uma pequena parte da totalidade do processo educativo. Numa metáfora, a prática educativa é a parte aparente de um iceberg, enquanto que a maior parte, abaixo da superfície, representa os fundamentos do projeto educativo.

Fonte: wallpapersget.com

É, portanto, um risco pensar apenas na prática pedagógica, sem ter claros os fundamentos. Os principais pontos da prática que tem um fim em si mesma são:
- os fins justificam os meios
- insegurança do professor
- desequilíbrio do projeto educativo
- trajetória incerta dos alunos e resultados inexplicáveis
- dificuldades para planejar e avaliar
- falta de diretrizes e de critérios para organizar o fazer pedagógico.

Estas situações ocorrem quando a prática pedagógica não é pautada por diretrizes claras. Toda prática pedagógica deve estar comprometida com valores, num é neutra, há sempre uma visão de mundo que embasa as práticas pedagógicas.

Formas de se compreender o mundo:

Elaborado por Paula G. de Oliveira a partir da videoaula 9.

Transcrevemos a caracterização apresentada sobre cada um dos modelos:

EMPIRISMO
Representantes: Locke, Hume, Pavlov, Skinner, Mager
Homem: tábula rasa, ser passivo, governado pelo ambiente, modelado por estímulos externos
Educação: arranjo de condições para o conhecimento; a escola é sistematizadora de uma cultura preestabelecida
Conhecimento: "pacote pronto" definido a priori
Professor: transmissor do saber, relação vertical em relação ao aluno
Prática pedagógica: ensino fragmentado, na forma de dar e tomar o conteúdo. pretensão de controle de processo e homogeneidade no desempenho (é a escola tradicional)

INATISMO
Representantes: Sócrates, Rousseau, Rogers, Neil
Homem: a semente que traz em si o potencial de ser (pré programado; dons)
Educação: revelação paralela ao desenvolvimento, respeitando a natureza do indivíduo
Conhecimento: vinculado ao dom
Professor: facilitador da aprendizagem
Prática pedagógica: mais difícil de ser visto. exemplo: escola Summerhill. discursos: "fulano não dá pra matemática, chegou no seu limite". Ação não diretiva, centrada na autodireção do aluno e no contrato feito entre professor e aluno.

CONSTRUTIVISMO
Representantes: Pieget, Wallon, Vygotsky, Emilia Ferreiro
Homem: ser inteligente, ativo no processo de aprendizagem
Educação: conjunto de intervenções significativas que possm incidir sobre o processo de desenvolvimento e aprendizagem pelo enfrentamento de situações problema e pela interação com o sujeito cognoscente
Conhecimento: construção progressiva processada pela elaboração mental a partir de experiências sociais com o objeto do conhecimento mediadas pela interação entre as pessoas.
Professor: buscar a sintonia entre os processos de ensino e aprendizagem; organizar o ensino em função do sujeito aprendiz; atuar como problematizador e desestabilizador em situações conflitivas; valer-se dos erros como oportunidades pedagógicas.
Prática pedagógica: ampliação das possibilidades de mediação e de conhecimento, respeitando o tempo de aprendizagem, a diversidade de conhecimentos e a heterogeneidade cultural; aproximação entre escola e vida por meio de projetos, resolução de problemas e práticas de pesquisa.

É importante ter clareza dessas possibilidade de ensino, não só para organizar as nossas práticas, mas para repensar a relação professor e aluno.

Vídeo-aula 8: Contradições de valores na escola: entrelaçados da história com a história da educação e da educação especial

Nesta aula a professora Kátia de Souza Amorim apresentou um detalhado histórico sobre a evolução da educação especial no Brasil, fazendo alguns paralelos com o contexto mundial em diferentes momentos da história, e também pontuou momentos importantes na educação regular.

O quadro a seguir sintetiza um pouco do que foi apresentado na aula:

Clique na imagem para vê-la em tamanho maior


Internacionalmente, destacou-se que na França foram criados o Instituto Nacional de Surdos-Mudos (1770) e o Instituto Nacional de Cegos (1784). Mais adiante, em 1824, a escrita em braille começa a ser elaborada, período em que também se discutia a questão da linguagem dos surdos (oralismo/bilinguismo)

Educação regular no Brasil:

1824 - Primeira Constituição Federal prevê instrução primária pública, mas nessa época, poucos tinham acesso à educação.

1889 - Proclamação da República: é retirada a gratuidade do ensino. Contexto: sociedade agrária, maioria da população iletrada, as poucas escolas existentes destinavam-se às altas camadas da sociedade.

1905: Adotam-se os modelos de avaliação da inteligência (QI) e definem-se critérios para definir a deficiência mental. A escola selecionava por meio de avaliações e separava os alunos considerados "anormais".

1920: Apenas 41 em cada 1000 pessoas frequentavam o primário.

A constituição de 1934 passa a colocar a educação como obrigatória e gratuita para toda a população.
Nesse momento já havia reivindicações pelo direito à educação das pessoas com necessidades especiais.

Década de 1950: curso para professores de crianças surdas, cegas.

1973: criação do CENESP - Centro Nacional de Educação Especial - para compreender o desenvolvimento dessas pessoas, traçar currículos, planejar, trabalhar com o treinamento e aperfeiçoamento. O estado passa a assumir de fato esse papel de se preocupar com esta questão.

1988: Constituição Federal traz vários artigos sobre a deficiência ligada ao trabalho, lazer e educação.

1991: CENESP mais próximo à área da educação.

1994: Convenção de Salamanca - Equalização de oportunidades para pessoas com deficiência. E educação para todos: crianças, jovens e adultos, alem das pessoas com necessidades especiais. A pedagogia passa a ser centrada no indivíduo, o aluno.

Muda-se o paradigma, não propondo uma reforma técnica, "mas uma busca de compromisso e disposição pela mudança de paradigma na educação, no exercício dos direitos humanos".

É importante resgatar a história para que possamos identificar elementos do passado que se concretizam nas nossas práticas atuais. Olhar para o passado também possibilita resgatar significações construídas em múltiplos processos sociais. Importante observar que as transformações que foram acontecendo com relação ao atendimento de pessoas com necessidades especiais deu-se por conta de reivindicações da população, que lutou por direitos para todos. Portanto, hoje, é preciso lembrar de todo o caminho que foi sendo traçado para que as crianças com NEE pudessem ter acesso à escola regular, sem ficarem fadadas à segregação, tendo a possibilidade de construir seu processo de formação junto às demais crianças.

Vídeo-aula 7: Crianças e jovens com necessidades especiais na escola - dialética da inclusão/exclusão

Professora Kátia Amorim

O processo de inclusão na escola é bastante controverso e possui diferentes perspectivas. Trazendo a contribuição do prof. Nilson Machado, Kátia Amorim aborda a inclusão dentro da lógica da complexidade, uma vez que neste processo existem vários elementos que contribuem para seu funcionamento.

Foram apresentados nesta aula depoimentos de três pontos de vista relacionados à inclusão: uma mãe, uma professora e uma coordenadora pedagógica.

A mãe falou sobre o fato de que ainda hoje, há escolas que recusam matricular alunos com NEE alegando não estarem preparadas, enquanto outras escolas matriculam os alunos e demonstram também não estarem preparadas. É comum ocorrer uma inclusão social, na qual o aluno com NEE interage e se relaciona com as demais crianças, porém, a aprendizagem não ocorre da mesma forma. É preciso, segundo a mãe entrevistada, que a escola olhe com mais atenção para as necessidades dos alunos e que trabalhe sempre junto com a família.

Para a professora, muitas vezes a gestão escolar (direção e coordenação) naturalizam a deficiência, no sentido de agir como se não existisse a NEE. Ela fala sobre a necessidade de se pensar possibilidades para o trabalho com os alunos com NEE, conhecendo melhor suas necessidades. Para a professora, a insegurança dos professores ao trabalhar com alunos com NEE vem do fato de que há pouco convívio com estas pessoas na sociedade, pelo fato de que estas pessoas são excluídas socialmente. A escola deve trabalhar para garantir a permanência destes alunos, trabalhando em parceria com a família.

- gestão: coordenadora - articulando pontos de vista notou que os desafios para o professor é o de não se sentir preparado, por não ter experiência/formação específica, sensação de que seu papel é o de socializar mais do que desenvolver o cognitivo (o que de fato é um mito). PAra as famílias há um receio sobre ser melhor colocar a criança na escola regular, sensação de não estar sendo bem aceito e bem atendido. Profissionais da saúde devem apoiar também este processo de inclusão, apoiando pais e professores. Pouco espaço na escola para ouvir as crianças, que possuem estratégias para resolver certas cituações de maneira mais simples, por isso é importante ouvir, observar as crianças e como elas lidam com essas dificuldades.

Fonte: institutohistoriar.blogspot.com
A imagem representa a importância da trabalho conjunto envolvendo o aluno, a família, os professores e a gestão da escola.

A professora Kátia deu um exemplo de uma criança com paralisia cerebral, que compromete o desenvolvimento físico, mas não interfere no cognitivo. Esta criança era totalmente excluída, embora estivesse matriculada e frequentasse a escola. A charge ilustra uma situação em que se toma a condição física como determinante das capacidades da pessoa com NEE:

Fonte: leituraeproducaodetexto.blogspot.com


É preciso tirar o foco do sujeito (criança diferente e com NEE) e centrá-lo na relação professor-aluno, que deve ter como princípios a reciprocidade, a mutualidade e a bidirecionalidade.

Estudos mostram que que os professores têm dificuldades para lidar com os alunos com NEE, por se dizerem despreparados, desmotivados por não conseguir ajudar as crianças a avançarem. O professor acaba dando menos atenção a estes alunos. Acaba dando atividades alheias ao que o grupo está fazendo. Dessa forma, mantém-se o padrão da inclusão que de certo modo exclui. É aí que surge a dialética da inclusão/exclusão, é o aluno com NEE estar dentro da sala de aula, porém sem estar incluído de fato.

Vídeo-aula 6: O professor e a diversidade cultural na sala de aula

Segundo a professora Rosa Iavelberg, "ensinar sobre a diversidade cultural é respeitar o direito dos povos de manifestar, documentar e preservar sua cultura". O tema aborda a importância de se ensinar sobre a diversidade cultural promovendo o respeito pelas diversas culturas, uma vez que todas elas têm seu valor.

A aprendizagem sobre diversidade cultural ocorre com a oportunidade de o aluno criar, sem copiar, mas sendo influenciado pelas poéticas das obras artísticas que a ele são apresentadas, a partir das quais expressa sua poética própria. Foi mostrado o exemplo de um desenho feito por um aluno que se inspirou nos traços dos desenhos corporais feitos na Índia utilizando a técnica da henna (esquerda). Nota-se que a criança não fez uma simples reprodução do que viu, mas adaptou uma técnica de desenho para criar uma composição nova, de sua autoria.

 
Fonte: printscreen da videoaula 6.


Segundo F. Graeme Chalmers (Diversidad Cultural e Educación Artística, Barcelona: Paidós, 2003), o ensino da diversidade cultural deve promover a ênfase nas relações humanas com cooperação e respeito mútuo, na promoção do pluralismo e diversidade social com equidade, e ensino de diferentes contúdos não pertencentes às culturas dominantes.

O professor deve considerar as influencias culturais na arte de cada povo e suas especificidades próprias do contexto onde foram criadas. É essencial conhecer os diversos sistemas simbólicos, compostos pelos costumes, lendas, mitos, festas, música, arquitetura, valorizando a integração da produção cultural local com a cultura universal.

Por meio do conhecimento é possível aproximar o aluno de outros povos e culturas, estimulando o respeito e a valorização ao que é diferente e estabelecendo relações com o que é produzido na própria cultura da qual faz parte.

Vídeo-aula 5: O papel do professor na mediação cultural

A aula da professora Rosa Iavelberg trata da importância de se trabalhar com a arte na escola como forma de manifestação social. Embora esteja mais relacionado à disciplina de Artes, as demais disciplinas também podem trabalhar os mais diversos conteúdos a partir de obras de arte.

Para que este trabalho de mediação entre o aluno e a arte ocorra de fato, é preciso desmistificar a ideia de que a arte só é acessível a poucas pessoas, promovendo a consciência sobre o valor da arte na sociedade e na vida dos indivíduos.

Ao trabalhar os conteúdos da arte brasileira, pesquisando os artistas que se destacaram ao longo do tempo, os alunos aprendem a relacionar a produção artística com o contexto de cada época em nosso país. Trabalhar com arte e propor aos alunos que produzam seus próprios trabalhos permite que eles aprendam a importância de se expressar.

A formação cultural mediada pelo professor promove a integração do aluno com a sociedade. A arte é uma área do conhecimento que pode favorecer o gosto dos alunos por frequentar a escola. Trabalhando com arte, é possível tratar de diversos temas, através do qual os alunos produzem e podem compartilhar suas produções.

Observa-se que ao longo do tempo, o ensino de Artes na escola passou por transformações. A Escola Tradicional caracteriza-se pela priorização de aspectos exógenos da aprendizagem, ou seja, as técnicas são mais importantes. Na Escola Nova destacam-se os aspectos endógenos da aprendizagem, ou seja, o que cada aluno enquanto indivíduo manifesta o que sente, sem preocupação com técnicas ou modelos a serem seguidos. Na escola contemporânea, ocorre a interação entre a arte adulta e a que é feita pelas crianças, considerando, portanto, os aspectos endógenos e exógenos.

A primeira imagem abaixo mostra um trabalho artístico escolar que é uma releitura da obra Operários, de Tarsila do Amaral. É possível verificar que não se trata de uma cópia, simplesmente. Os rostos apresentam expressões bem mais felizes que os da obra original, mais abaixo:




Segundo a professora Rosa Iavelberg, a arte pressupõe práticas de educação diferenciadas e reconhece a cultura como conteúdo de poder transformador e formador da identidade de estudante.

O professor deve selecionar arte de qualidade, que tenha força de criação para que o aluno possa se identificar e para que possam perceber o valor da autoria e protagonismo dos artistas. Também deve trabalhar com uma arte que faça sentido na vida dos estudantes.


Vídeo-aula 4: Ética e saúde na escola: definindo alunos com necessidades especiais

Esta aula da professora Lucia Tinós trata da definição do aluno com necessidades educativas especiais (NEE) e de como esta terminologia e a política para educação inclusiva foram se configurando.

Uma primeira questão para reflexão é: qual o impacto da notícia de que se vai trabalhar com aluno com NEE? Que referências nos vêm à mente? Eu, que também sou professora, quando recebi meu primeiro aluno com NEE pensei em como poderia fazer para adaptar os conteúdos de modo que ele pudesse participar das aulas junto com os demais alunos. Procurei conversar com os demais colegas professores para saber que tipos de materiais e atividades costumavam utilizar e continuo experimentando desde então. Como foi dito na aula, cada aluno é único, mesmo alunos que tenham o mesmo tipo de deficiência e mesmo aqueles que não tenham necessidades especiais têm suas especificidades, tem seu próprio ritmo de aprendizagem, e nós professores tentamos sempre adequar os conteúdos aos alunos, na medida do possível.

Fonte: maosabertassonhosasolta.blogspot.com

Em relação à terminologia "necessidades educativas especiais", esta teve origem no Reino Unido a partir do relatório de Warnock, de 1978. Até então o que ocorria era a integração, na qual o aluno com deficiência é que deve se adaptar ao ambiente. A partir de Warnock, o que se propunha era que a instituição se adaptasse aos alunos conforme suas necessidades. O trecho a seguir foi apresentado nesta aula:
"Um aluno tem necessidades educativas especiais quando, comparativamente com os alunos da sua idade, apresenta dificuldades significativamente maiores para aprender ou tem algum problema de ordem física, sensorial, intelectual, emocional ou social, ou uma combinação destas problemáticas (...)". (Relatório Warnock, 1978)


No Brasil esta terminologia passou a ser adotada após a Conferência Mundial de Educação Especial, ocorrida em Salamanca (Espanha) no ano de 1994.  A Declaração de Salamanca apresenta uma definição do aluno com NEE. Esta definição é, porém, bastante ampla e abrangente, o que pode ocasionar ambiguidade ou mesmo um esvaziamento do termo.

Com relação ao uso de terminologias e definições, é preciso tomar cuidado para que não ocorra uma estigmatização dos alunos com NEE. É importante conhecê-las, desde que elas possam auxiliar no trabalho que envolve as questões pedagógicas.

Vídeo-aula 3: Ética e valores na ação educativa

 

Nesta aula a professora Kátia Amorim retoma a discussão da primeira aula do curso, na qual o professor Ulisses Araújo trata das transformações da escola ao longo da história. Num primeiro momento, a escolarização se dava por meio do ensino individualizado e o estudante pertencia a um grupo restrito da sociedade. Posteriormente, a escolarização torna-se responsabilidade do Estado, sendo pública, porém, ainda restrita a alguns grupos sociais e já com o formato de um professor para vários alunos. Num terceiro momento, ocorre a universalização do acesso à escolarização, a escola passa a ser para todos, independentemente de origem social. Neste momento surge a diversidade no interior da escola.

Foram abordados nesta aula alguns dos paradigmas escolares, que se referem às habilidades de ler/escrever; escrever/contar, que são práticas de uma cultura letrada. As pessoas com deficiência mental, por exemplo, encontram dificuldades para aprender estas habilidades, enquanto que pessoas com deficiência visual e/ou auditiva encontram dificuldades para acessar os suportes convencionais, sendo necessário que eles possam ter acesso a materiais em braile ou à comunicação por Libras.

A questão que se coloca é: como é ser professor nestas condições? A escola deve evitar a exclusão, estimulando o respeito e a solidariedade entre todos. A empatia deve ser aprendida, para que cada indivíduo saiba se imaginar no lugar do outro.

 
E como lidar, conviver e ensinar a quem por tanto tempo esteve excluído da instituição escolar? É preciso haver um trabalho intencional com os valores humanos. Professores e alunos têm suas próprias significações sobre escola, educação, diferença, deficiência, doença etc. É necessário ter claros estes significados e sentimentos. Trabalhar com estas questões é extremamente importante para que o aluno com necessidades educacionais especiais (NEE) seja de fato acolhido e incluído no grupo ao qual está integrado na escola.

É necessário que se tome muito cuidado para que não se faça na escola uma inclusão perversa, na qual o aluno com NEE não esteja incluído apenas burocraticamente, na lista de classe, mas que de fato participe do processo de desenvolvimento e aprendizados junto com os demais alunos da turma.

A professora Kátia Amorim falou sobre a questão do conflito que pode surgir entre as perspectivas da Educação e a bagagem que o professor traz. Podem haver confrontos entre conhecimentos e valores relacionados às diferenças. Conflitos são inerentes ao processo educativo, é preciso lidar com eles de modo a propiciar aprendizado e enriquecimento social, para professores e alunos.

Vídeo-aula 2: A ação educativa ao longo da trajetória escolar

Foi apresentada nesta aula, pela professora Silvia Colello, possíveis ações que o professor deve desempenhar junto ao aluno nas diferentes fases da escolarização. Ainda relacionado ao tema da aula anterior, trata-se sobre o que se deve fazer para além do ensinamento dos conteúdos curriculares.

Por um lado, tem-se a ação educativa, que representa a atuação dos professores e, de outro lado, tem-se a trajetória escolar, que é a vivência do aluno na escola e o que a escola representa para ele.

Na educação infantil a escola é percebida pela criança como um espaço para brincar. É um primeiro contato, a escola é um novo mundo no qual a criança vai fazendo descobertas. Nesta etapa, o papel do professor é o de atuar no processo de institucionalização, ou seja, ajudar na adaptação da criança, ampliando suas referências mostrando a ela como é a escola, o que tem na escola, como funciona.


Nos anos iniciais do primeiro ciclo do ensino fundamental (1º e 2º anos) a escola passa a ser vista pela criança como um espaço de aprendizado. O professor deve dar apoio no sentido de auxiliar na organização do aluno, fortalecer o vínculo com o saber, estimular valores para a convivência em grupo.

Nos anos finais do primeiro ciclo do ensino fundamental (3º e 4º anos), a criança passa a ter uma visão mais complexa sobre a escola. Nessa fase, o professor deve atuar no processo de escolarização da criança, fortalecendo a relação aluno-escola a partir das dimensões afetiva, metodológica, funcional, cognitiva e social.


No segundo ciclo do ensino fundamental, a escola é mais um entre outros "mundos", ou seja, já não é mais o espaço que mais atrai o a criança; ela passa a se interessar por outras coisas. O professor deve auxiliar no processo do "aprender a aprender", no desenvolvimento da autonomia, e o lidar com as dificuldades.


No ensino médio os alunos tendem a considerar a escola como sendo importante, porém, sendo muito chata, cansativa. A adolescência traz como características as crises, os conflitos, cobranças, o questionamento sobre o futuro profissional, a formação de identidade. Neste momento o professor deve auxiliar na preparação para a vida social, para o após a escola, além do processo de escolarização também.

Sintetizando, cada uma das etapas da trajetória escolar dos alunos requer uma ação educativa própria, sendo que em cada momento, determinado processo deve ser mais enfatizado, conforme esquema abaixo:

Elaborado por Paula G. de Oliveira a partir da videoaula 2.


Não significa, porém que estas setas não possam se cruzar ao longo da trajetória escolar, ou seja, o processo de preparação para a vida não vai ocorrer necessariamente apenas no ensino médio, pode ocorrer desde o ensino fundamental; do mesmo modo o processo de institucionalização também pode precisar ser trabalhado com alunos do ensino médio.

Vídeo-aula 1: Papel do Professor: instruir ou educar?

 
Esta imagem relaciona-se bastante com o que foi apresentado nesta videoaula, pois o professor deve não apenas ensinar os conteúdos do currículo acadêmico, mas deve também possibilitar o aprendizado que está ligado à formação humana. Assim, ao colocar um conteúdo no quadro, ao mesmo tempo deve-se abrir janelas, para que a partir do que aprende na escola o aluno possa desenvolver-se enquando ser humano participante da sociedade.

Nesta aula a professora Silvia Colello questiona o papel do professor e as várias demandas que fazem parte da profissão. A função imediata do professor é ensinar, mas o que deve ser prioritariamente ensinado? Conteúdos acadêmicos ou conteúdos relacionados à formação humana?

Com relação aos alunos, existem cobranças para que sejam criativos, responsáveis, autônomos, conscientes, competentes, críticos e que desenvolvam a ética, a profissionalização e que consigam obter inserção social. Ao mesmo tempo os alunos também estão sujeitos a algumas ameaças que circundam o universo adolescente, como a marginalidade, o alcoolismo, as drogas, doenças sexualmente transmissíveis, a violência, a gravidez precoce.

Tendo em vista este quadro, vê-se que o papel do professor, que lida diretamente e diariamente com os alunos, é muito mais do que simplesmente ensinar conteúdos ou "passar conhecimentos".
Existem duas dimensões no papel do professor:
- a primeira é relativa ao ato de instruir, ou seja, ao processo de ensino e aprendizagem;
- a segunda dimensão é relativa ao próprio processo de educar, que é o processo de formação humana.
Conforme Cesar Coll, citado nesta aula, "tão importante quanto ensinar fatos e conceitos, é preciso ensinar normas, procedimentos, atitudes e valores".

Para que seja possível conciliar estas duas dimensões, é preciso que o professor deixe de lado a visão dicotômica, segundo a qual ou se instrui, ou se educa, pois ambas não são excludentes. É preciso ter uma visão dialética.

Segundo George Gusdorf, "A pedagogia real situa-se para além dos limites e das intenções de qualquer disciplina". Ou seja, os conteúdos disciplinares devem ser trabalhados de modo a que estes possam se relacionar à vida dos estudantes e para que contribuam para sua formação humana.

"A importância dada aos conteúdos revela um compromisso da instituição escolar em garantir o acesso aos saberes elaborados socialmente, pois estes se constituem como instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o exercício da cidadania democrática e a atuação no sentido de refutar ou reformular as deformações dos conhecimentos, as imposições de crenças dogmáticas e a petrificação de valores. Os conteúdos escolares que são ensinados devem, portanto, estar em consonância com as questões sociais que marcam cada momento histórico. Isso requer que a escola seja um espaço de formação e informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve necessariamente favorecer a inserção do aluno no dia-a-dia das questões sociais marcantes em um universo cultural maior". (Parâmetros Curriculares Nacionais - Introdução)
Em resumo, o papel do professor é trabalhar a partir da dimensão pedagógica relacionada com a dimensão educacional, que contribuirão para o DESENVOLVIMENTO, a APRENDIZAGEM, a PERSONALIZAÇÃO, a SOCIALIZAÇÃO, a HUMANIZAÇÃO e para a LIBERTAÇÃO. O equilíbrio entre estas duas dimensões ocorre quando a escola está em sintonia com a sociedade na qual está inserida.

O Projeto Político Pedagógico da escola constitui a macro esfera, enquanto que o dia a dia, as situações cotidianas, os diálogos, as intervenções nos conflitos compõem as micro esferas, que devem estar afinadas ao PPP da escola. Desse modo, o que se propõe como projeto político da escola deve ser colocado em prática em todos os momentos, em todas as esferas da escola, para que de fato os alunos possam aprender a partir da vivência.

É importante refletir sobre o fato de que além de o professor ter papel fundamental nesta difícil tarefa, por lidar frequente e diretamente com os alunos, também a gestão da escola (direção e coordenação pedagógica) e demais funcionários precisam estar ativos na manutenção de um ambiente escolar no qual a dimensão educacional caminha junto da dimensão pedagógica, é preciso haver total cooperação entre todos os que fazem parte da escola.